Formidável...
" O menu da casa
Toda a gente viu nas notícias o bando vestido de preto que atacou o Estádio do Dragão. Muito menos gente terá visto o bando, de traje indeterminado, que atacou uma loja McDonald's em Lisboa durante a manifestação do movimento Que se lixa a Troika. Os primeiros moviam-se pelo ódio ao FC Porto, eram violentos e foram unanimemente condenados, os segundos inspiravam-se no ódio ao capitalismo, viram-se descritos como 'ordeiros' e suscitaram a natural simpatia do jornalismo indígena, que acolhe qualquer acto de delinquência desde que perpetrado por T-shirts de 'Che' Guevara.
Eu, que não sabia haver um modo ordeiro de invadir propriedade alheia, limito-me a estranhar que o McDonald's seja um alvo privilegiado dessa gente. Fosse para gritar palavras de ordem ou para comprar um cheeseburger, nunca entrei num estabelecimento do franchise em Portugal. Mas, na América, já visitei dois ou três e observei casualmente dezenas, investigação que me permitiu constatar os baixíssimos preços e o baixíssimo estatuto social dos clientes. Eis uma evidência: o McDonald's vende comida barata (também) para pessoas com pouco dinheiro, incluindo indigentes que aproveitam o espaço quentinho para passar a noite na companhia de um café. Dentro das empresas naturalmente devotadas ao lucro, não conheço outra mais próxima das necessidades dos infelizes e, se a palavra não for excessiva, da caridade. Sem fazer alarde disso.
Alarde, ainda por cima injustificado, faz o Que se Lixe a Troika. Embora os seus membros berrem imenso em prol dos pobres, contestam a existência de firmas que empregam milhares e servem milhões. Os salários são baixos e a nutrição sofrível? Não duvido. Duvido é que o Que se Lixe a Troika, de que um dos porta-vozes trabalhou em tempos como publicitário ao serviço de uma certa multinacional alimentar cujo nome começa por
'M', perceba que,para imensos cidadãos, um salário mínimo é preferível a salário nenhum. E que um McMenu a troco de uns trocos é uma alternativa não demasiado deprimente ao cherne,
Se o objectivo o bando é maçar os abonados, podiam invadir o Lux ou a Bica do Sapato, onde por exemplo o cherne na brasa fica por 32 euros. Porém, além de igualmente criminosa, a proeza seria duplamente estúpida: é nesses lugares que inúmeros adeptos do Que se Lixe a Troika conspiram a aniquilação do capital.Os restantes comunicam por iPhone."
Alberto Gonçalves, Sociólogo in Juízo Final - revista Sábado - 31 de Outubro de 2013.
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