Um poeta e um poema por dia - XVI
Hoje, Ruy Belo
Elogio da Amada
Ei-la que vem ubérrima
numerosa escolhida
secreta cheia de pensamentos isenta de cuidados
Vem sentada na nova primavera
cercada de sorrisos no regaço lírios
olhos feitos de sombra de vento e de momento
alheia a estes dias que eu nunca consigo
Morde-lhe o tempo na face as raízes do riso
começa para além dela a ser longe
A amada é bem a infância que vem ter comigo
Há pássaros antigos nos límpidos caminhos
e mortes como antes nunca mais
Ei-la já que se estende ampla como uma pátria
no limiar da nossa indiferença
Os nossos átrios são para os seus pés solitários
Já todos nós esquecemos a casa dos pais
ela enche de dias as nossas mãos vazias
A dor é nela até que deus começa
eu bem lhe sinto o calcanhar do amor
Que importa sermos de uma só manhã e não haver em volta
árvore mais açoitada pelos diversos ventos?
Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
Mais triste mesmo a vida onde outros passarão
multiplicando-lhe a ausência que importa
se onde pomos os pés é primavera?
Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"
secreta cheia de pensamentos isenta de cuidados
Vem sentada na nova primavera
cercada de sorrisos no regaço lírios
olhos feitos de sombra de vento e de momento
alheia a estes dias que eu nunca consigo
Morde-lhe o tempo na face as raízes do riso
começa para além dela a ser longe
A amada é bem a infância que vem ter comigo
Há pássaros antigos nos límpidos caminhos
e mortes como antes nunca mais
Ei-la já que se estende ampla como uma pátria
no limiar da nossa indiferença
Os nossos átrios são para os seus pés solitários
Já todos nós esquecemos a casa dos pais
ela enche de dias as nossas mãos vazias
A dor é nela até que deus começa
eu bem lhe sinto o calcanhar do amor
Que importa sermos de uma só manhã e não haver em volta
árvore mais açoitada pelos diversos ventos?
Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
Mais triste mesmo a vida onde outros passarão
multiplicando-lhe a ausência que importa
se onde pomos os pés é primavera?
Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"
Ruy Belo elogia a infância amada, certamente, e, com tristeza, 'embarrilei' logo de início com a palavra "ubérrima"! Lamento mas, não conheço o significado nem me apetece ir ver no dicionário ( para onde me manda os sinónimos do word).
ResponderEliminarSei que nem toda a poesia é para ser entendida, mais para ser sentida. Lá sentir eu sinto, mas como tenho este péssimo defeito de entender tudo, e este poema parece-se muito com a prosa do Saramago, vou sublinhar a parte que me calou mais fundo:
"Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
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Se onde pomos os pés é Primavera?"
Um beijo, um abraço e uma boa noite!
Janita.
Nem sei que dizer-lhe, Janita...
ResponderEliminarBoa noite. Um beijo,
António
:)))
EliminarBoa noite, António!
Ubérrima, como deveria ter suposto, é o adjectivo superlativo de úbere...logo está bem de ver o que é!!
ResponderEliminarAgora já entendi a qual amada Ruy Belo dirige o elogio!
Desta é que me despeço de vez!
Até amanhã!
:)