sexta-feira, 7 de março de 2014

Um poeta e um poema por dia - III


Mais um dia, mais um poema. Carlos Drummond de Andrade... 



Para SemprePor que Deus permite 
que as mães vão-se embora? 
Mãe não tem limite, 
é tempo sem hora, 
luz que não apaga 
quando sopra o vento 
e chuva desaba, 
veludo escondido 
na pele enrugada, 
água pura, ar puro, 
puro pensamento. 
Morrer acontece 
com o que é breve e passa 
sem deixar vestígio. 
Mãe, na sua graça, 
é eternidade. 
Por que Deus se lembra 
— mistério profundo — 
de tirá-la um dia? 
Fosse eu Rei do Mundo, 
baixava uma lei: 
Mãe não morre nunca, 
mãe ficará sempre 
junto de seu filho 
e ele, velho embora, 
será pequenino 
feito grão de milho. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'

2 comentários:

  1. Olá, António.

    Drummond de Andrade era de uma versatilidade invulgar. Tanto escrevia poesia erótica como poemas que calavam fundo no nosso coração.
    Adoro este poema e sempre me comovo quando o leio. Já o publiquei num Dia da Mãe, no meu blogue. É lindo e comovente.

    Obrigada!

    ( desta vez não há engenho nem arte nem sequer ânimo para poetar, como pensei fazer, peço desculpa, mas nem sempre se podem cumprir promessas(?). )

    Um abraço.

    Janita

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  2. Olá Janita, lá não haver engenho nem arte, enfim. Agora, nem sequer ânimo, dá-me que pensar. Só posso daqui incentivá-la e dizer-lhe: p'rá frente grande MULHER. Desejo que essa falta seja passageira, muito passageira mesmo-
    Um beijo e ium abraço,
    António

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