Um poeta e um poema por dia - V
Hoje, deixo-vos um poema de Eugénio de Andrade
"Entre os teus lábios
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio. "
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha."
Eugénio de Andrade
Olá, António.
ResponderEliminarEugénio de Andrade sempre nos surpreende pela positiva. Este poema não conhecia, mas sei que ele tanto nos embala com poemas de amor tranquilo, como nos agita a pensar nas suas metáforas poéticas.
Como o engenho anda arredado e a arte levou sumiço - espero que por pouco tempo - vou deixar-lhe este 'Sal da Língua'...da dele, claro!
"Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua."
Um beijo e boa semana.
Janita
Janita, também gosto muito de E.A. E, como já é noite, deixo-lhe esta preciosidade. Dele, claro.
ResponderEliminar"De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos
e canta
o êxtase do dia."
Desejo-lhe, também, uma bela semana e que o engenho e arte voltem: depressa a correr
Um beijo,
António.
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