terça-feira, 6 de julho de 2010

Reflexões... (3)

A Amizade

Ao reflectir sobre a Amizade em geral, sobre as facilidades ou dificuldades de as manter; ao tentar perceber por que razão uma Amizade que parecia tão sólida, tão cheia de força, se desmorona de repente, descobri este texto de Bertrand Russell:

"Se a todos nós fosse concedido o poder, como num passe de mágica, de ler a mente uns dos outros, suponho que o primeiro efeito seria que quase todas as amizades se desfariam. O segundo efeito, entretanto, poderia ser excelente, pois um mundo sem amigos seria sentido como intolerável, e nós teríamos de aprender a gostar uns dos outros sem a necessidade de um véu de ilusão para esconder de nós mesmos que não nos consideramos uns aos outros pessoas absolutamente perfeitas. Sabemos que os nossos amigos têm as suas falhas, e que apesar disso são pessoas de um modo geral aprazíveis das quais gostamos. Consideramos intolerável, no entanto, que tenham a mesma atitude connosco. Esperamos que pensem que, ao contrário do resto da humanidade, nós não temos falhas. Quando somos compelidos a reconhecer que temos falhas, tomamos esse facto óbvio com demasiada seriedade."

in ”A Conquista da felicidade”

Aqui estava, diante dos meus olhos a explicação para tantas interrogações. Maravilha...


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reflexões... (2)

"A Instabilidade e Imprevisibilidade do Nosso Comportamento


Não deveis estranhar se hoje vedes poltrão aquele que ontem vistes tão intrépido: ou a cólera, ou a necessidade, ou a companhia, ou o vinho, ou o som de uma trombeta, tinham-lhe incutido coragem. Não se trata de uma coragem que a razão haja modelado; foram as circunstâncias que lhe deram consistência; não espanta, pois, que circunstâncias contrárias a tenham transformado.
Esta tão flexível variação e estas contradições que em nós se vêem, fizeram com que alguns imaginassem termos duas almas, e que outros supusessem que dois poderes nos acompanham e agitam, cada qual à sua maneira, um tendendo para o bem, o outro para o mal, já que tão brutal diversidade não poderia atribuir-se a uma só entidade.

Não somente o vento dos acidentes me agita consoante a direcção para que sopra, mas, ademais, eu agito-me e perturbo-me a mim próprio pela instabilidade da minha postura; e quem, antes do mais, se observar, nunca se achará duas vezes no mesmo estado. Confiro à minha alma ora um rosto ora outro, conforme o lado sobre que a pousar. Se falo de mim de diferentes maneiras é porque de maneiras diferentes me observo. Toda a sorte de contradições se podem encontrar em mim sob algum ponto de vista e sob alguma forma. Envergonhado, insolente; casto, luxurioso; tagarela, taciturno; duro, delicado; inteligente, estúpido; irascível, bonacheirão; mentiroso, veraz; douto, ignorante; generoso, avaro e pródigo: tudo isto vejo em mim de algum modo, conforme para onde me viro. Quem quer que se estude a si próprio muito atentamente, encontra em si, e até no seu mesmo juízo, igual volubilidade, igual discordância. Não há nada que eu possa dizer de mim numa só palavra de modo absoluto, único ou inabalável, sem incluir mesclas ou misturas."

Michel de Montaigne, in 'Ensaios - Da Inconstância das Nossas Acções'

domingo, 4 de julho de 2010

Reflexões...

Nós e os outros…

Por que será que, todos nós ou quase, quando nos sentimos desencantados e/ou decepcionados, tentamos, mesmo sem razão, culpar - quase sempre - os outros?

Por que será que, todos nós ou quase, tentamos culpar os outros das nossas próprias frustrações?

Por que será que, quase sempre, quando a vida nos corre mal, tentamos sempre convencer-nos, que a culpa é dos outros?

Não interessa nada que tenham o direito de se defenderem. Culpam-se, e pronto! Caso arrumado… Parece que, cada vez mais, cada um se acha dono da razão e da verdade e acabou-se!

Deixar os outros defenderem-se, para quê? A decisão está tomada e é irreversível…

Depois, queixamo-nos que a Justiça não funciona. Como poderá funcionar, se logo ao nível individual, não permitimos que funcione?