quarta-feira, 19 de março de 2014

Um poeta e um poema por dia - XIV

Por hoje ser dia do Pai, fica um poema de Florbela

"Ter um Pai

Ter um Pai! É ter na vida
Uma luz por entre escolhos;
É ter dois olhos no mundo
Que vêem pelos nossos olhos!

Ter um Pai! Um coração
Que apenas amor encerra,
É ver Deus, no mundo vil,
É ter os céus cá na terra!

Ter um Pai! Nunca se perde
Aquela santa afeição,
Sempre a mesma, quer o filho
Seja um santo ou um ladrão;

Talvez maior, sendo infame
O filho que é desprezado
Pelo mundo; pois um Pai
Perdoa ao mais desgraçado!

Ter um Pai! Um santo orgulho
Pró coração que lhe quer
Um orgulho que não cabe
Num coração de mulher!

Embora ele seja imenso
Vogando pelo ideal,
O coração que me deste
Ó Pai bondoso é leal!

Ter um Pai! Doce poema
Dum sonho bendito e santo
Nestas letras pequeninas,
Astros dum céu todo encanto!

Ter um Pai! Os órfãozinhos
Não conhecem este amor!
Por mo fazer conhecer,
Bendito seja o Senhor!”"

Florbela Espanca in Poesia 1918-1930

2 comentários:

  1. Curiosamente, toda a poesia que conheço de Florbela Espanca -salvo raras excepções - são sonetos.
    Se o António não fizesse referência à autora, eu não associaria a poetisa ao poema.
    Sendo filha ilegítima, parece-me ser essa a amargura que encontro implícita no poema. Parece-me...

    Desejo que tenha passado um Feliz Dia do Pai, António.

    Um beijo
    Janita

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  2. Janita,
    Nada de amarguras... a vida é algo tão bom que não há tempo para amarguras.
    Felizmente, passei um dia do Pai muito bom. Não como filho, porque o meu Pai já não está entre nós ( para mim, no entanto,está sempre presente. Tenho sempre presentes os conselhos e os ensinamentos que me deixou), mas como Pai.
    Uma boa noite e um beijo,
    António

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