domingo, 9 de março de 2014

Um poeta e um poema por dia - V

Hoje, deixo-vos um poema de Eugénio de Andrade

"Entre os teus lábios

Entre os teus lábios 
é que a loucura acode, 
desce à garganta, 
invade a água. 

No teu peito 
é que o pólen do fogo 
se junta à nascente, 
alastra na sombra. 

Nos teus flancos 
é que a fonte começa 
a ser rio de abelhas, 
rumor de tigre. 

Da cintura aos joelhos 
é que a areia queima, 
o sol é secreto, 
cego o silêncio. "


Deita-te comigo. 
Ilumina meus vidros. 
Entre lábios e lábios 
toda a música é minha."


Eugénio de Andrade



2 comentários:

  1. Olá, António.

    Eugénio de Andrade sempre nos surpreende pela positiva. Este poema não conhecia, mas sei que ele tanto nos embala com poemas de amor tranquilo, como nos agita a pensar nas suas metáforas poéticas.

    Como o engenho anda arredado e a arte levou sumiço - espero que por pouco tempo - vou deixar-lhe este 'Sal da Língua'...da dele, claro!



    "Escuta, escuta: tenho ainda
    uma coisa a dizer.
    Não é importante, eu sei, não vai
    salvar o mundo, não mudará
    a vida de ninguém - mas quem
    é hoje capaz de salvar o mundo
    ou apenas mudar o sentido
    da vida de alguém?

    Escuta-me, não te demoro.
    É coisa pouca, como a chuvinha
    que vem vindo devagar.
    São três, quatro palavras, pouco
    mais. Palavras que te quero confiar,
    para que não se extinga o seu lume,
    o seu lume breve.

    Palavras que muito amei,
    que talvez ame ainda.
    Elas são a casa, o sal da língua."

    Um beijo e boa semana.

    Janita




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  2. Janita, também gosto muito de E.A. E, como já é noite, deixo-lhe esta preciosidade. Dele, claro.

    "De palavra em palavra
    a noite sobe
    aos ramos mais altos

    e canta
    o êxtase do dia."

    Desejo-lhe, também, uma bela semana e que o engenho e arte voltem: depressa a correr
    Um beijo,
    António.
    ,

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