quarta-feira, 2 de abril de 2014

Para acabar com estas jornadas de poemas e poetas, deixo um poema de Trindade Coelho:


"PARÓDIA AOS LUSÍADAS

Os grandes paspalhões assinalados, 

Que nas reuniões da Academia 
Foram solenemente apepinados 
Por sua telha ou sua fidalguia, 
Que nas guerras das mocas esforçados 
Mais do que a força humana permitia 
No Teatro Académico asnearam 
Tolices de que todos se espantaram;

E também as façanhas gloriosas 

Dos Cabrais e Waldecks e quejandos, 
Que à noite, com as vozes mais fanhosas, 
andam o nível a pedir em bandos; 
E as diabólicas fúrias deliciosas 
De certos quintanistas memorandos, 
Cantando espalharei por toda a parte. 
Há-de-se rir o mundo até que farte.

Ó musa da ironia e da arruaça, 

Que tens excepcionais o gesto e o peito, 
Vira-te para mim e põe-te a jeito 
De inspirar um poema de chalaça; 
Quero um poema esplêndido, perfeito, 
Que vos celebre e que subir vos faça, 
Num pulo só, da glória à mor altura, 
Cavaleiros da mais triste figura!

Haviam sido há pouco apepinados 

Os meus heróis, que andavam murmurando 
Que na Trindade ou para aqueles lados 
Se estava contra eles conspirando, 
Quando uma noite andando endiabrados 
Pela Feira sobre isto conversando, 
Uma moca que os ares escurece 
Sobre as suas cabeças aparece.

Viu-se o Waldeck! Vinha carregado 

Com a moca que pôs a todos medo. 
"Ai rapazes!, bradou, venho estafado 
Qual se trouxesse às costas um rochedo! 
Deixai-me descansar só um bocado 
Para depois contar-vos um segredo." 
E diziam os outros: "Co'esta moca 
'Stamos seguros, pois ninguém nos toca."

Trindade Coelho "in illo tempore" 


2 comentários:

  1. E com esta sátira termina
    uma saga que foi de pouca dura
    as armas e o varões assinalados
    ficarão para sempre aqui plantados
    ficando eu à espera que regressem
    quaisquer recadinhos ou escritos
    sejam o que for mas que perdurem...

    Um beijo e que não fique mais dois anos longe, António.
    Janita

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  2. Janita, de certeza que não vou hibernar por muito tempo. Prometo voltar com regularidade em breve.
    um beijo e uma boa noite,
    António

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